Prefeito de Soledade é denunciado ao MP. O Médico do SAMU diz que foi coagido porque atendeu paciente grave vindo de Juazeirinho. Confira a carta denuncia.
Geraldo Moura Foto: Reprodução |
SOLEDADE
(PB) – Hermano Barbosa de Lima, médico da UTI móvel do
município de Soledade, 48 anos, protocolou uma denúncia no Ministério Público
(MP) contra o prefeito, Geraldo Moura Ramos, que o coagiu a não atender
pacientes graves oriundos da cidade de Juazeirinho dentro da sala de
estabilização do hospital soledadense.
Geraldo bradou aos berros,
na frente de diversas testemunhas, reclamando do médico porque prestou socorro
ao cidadão juazeirinhense, conhecido por Santos de Damião de Nobelino, que
passou mal e foi socorrido, mas veio a óbito.
O médico plantonista, que é
efetivo do município de Soledade, há 8 anos e trabalha 24 horas, afirma que por
se negar a atender tal determinação do alcaide em prestar socorro a vítima,
está sendo punido com mudança sem justificativa por escrito (oficial) do seu
dia de plantão, que antes eram dois dias por semana: quinta e sexta-feira.
Veja trechos da carta denuncia do médico:
“Dia 21.05.20, sou chamado
in loco na base do SAMU de Soledade pela médica do hospital de
Juazeirinho a prestar um socorro a um paciente dela gravíssimo que ela vinha
trazendo na viatura do hospital de Juazeirinho. Prontamente, acolhi seu pedido,
solicitando a mesma que deslocasse o paciente para sala de estabilização do
hospital, que funciona vizinho a nossa base e por ter mais espaço físico, fica
melhor de prestar assistência ao paciente do que dentro de uma viatura.
Imediatamente, ela seguiu minha recomendação e eu dentro da sala de
estabilização a acolhi e iniciei a terapêutica (deixar claro que não incomodei médico
do hospital de Soledade a prestar socorro em momento algum e eu mesmo junto com
a médica do hospital de Juazeirinho é que fizemos toda a assistência. Nós dois
éramos suficientes a prestar tal atendimento).
“Infelizmente, apesar de
toda a assistência prestada ao paciente, o mesmo veio a óbito. Relatei em
seguida caso ao médico do hospital de Soledade e expliquei o que havia
acontecido, sem em momento algum incomodá-lo em prestar assistência ao paciente
ou resolver questões burocráticas como atestado de óbito, etc, por entender que
a responsabilidade do paciente que morreu era da médica e minha. Orientei então
a médica do hospital de Juazeirinho a preparar atestado de óbito e chamar
funerária para recolhimento e translado do corpo até a cidade de Juazeirinho.
Enfim, tudo resolvido no que se refere as atribuições da rede de urgência.
As 18h50 aproximadamente ao
me recolher dentro do meu alojamento médico na base do SAMU em processo de
descontaminação (tomando banho), sou surpreendido por batidas fortes na porta
solicitando minha presença. Informei que estava terminando o banho mas
perguntei se se tratava de outra ocorrência e o solicitante me disse que não,
que era para falar sobre a ocorrência!
Abri a porta e me deparei
com o prefeito da cidade de Soledade ao lado da minha equipe e da equipe de
Juazeirinho, extremamente nervoso, me coagindo e me advertindo a não mais
prestar atendimento a pacientes graves no melhor ponto de atenção da nossa área
de abrangência (sala de estabilização do hospital de Soledade) a pacientes que
viessem da cidade de Juazeirinho.
Disse que se tivesse de
atender que atendesse dentro da ambulância do SAMU ou então não atendesse e
mandasse a médica na ambulância simples em que se encontrava seguir
destino pra Campina Grande, mas que colocar paciente dentro da sala de
estabilização do hospital, jamais!
Referi que as duas opções
não eram as mais adequadas, pois não poderia privar paciente grave do melhor
recurso disponível naquele momento e naquela localidade, pois a sala de
estabilização do hospital, era o local mais adequado em se acolher paciente
instável e não dentro de outra viatura, pois isso a gente só faz quando está na
BR recebendo paciente de outro município via acionamento de ocorrência da
central do SAMU de Campina Grande conosco e, que a 2ª opção também não poderia
fazer, pois mandar médica seguir caminho sem vaga garantida em Campina Grande
ao “Léo”, em ambulância simples, que era a que ela se encontrava sem recursos
avançados de UTI, seria uma verdadeira omissão de socorro da minha parte, pois
havia um recuso melhor pra ser oferecido a ela por nós.
Que só não fui ao encontro
dela na BR socorrê-la porque a Central do SAMU de Campina Grande, não tinha me
acionado pra tal ocorrência, pois ainda não tinha encontrado vaga para alocar
paciente grave em Campina Grande ,e que, por enquanto, o mais adequado quando
isso acontece era a gente então ir estabilizando o paciente dentro do hospital,
até aparecer e ele melhorar sua instabilidade para suportar o transporte.
Indagado por mim sobre
porque ele, o prefeito de Soledade, se incomodou tanto em eu atender um ser
humano que estava morrendo, referiu que era porque a cidade vizinha estava com
muitos casos de Covid-19, e que minha conduta em acolher paciente dessa cidade
estava expondo a cidade que ele administra.
Respondi ao mesmo que se me
recusasse em atender tal paciente, estaria ferindo os princípios a
Universalidade do SUS em que diz que não interessa de onde a pessoa vem, mora
ou nasceu, estando passando mal numa localidade onde não mora ou nasceu tem
total direito de ser acolhido pelo SUS em uma situação de urgência, além é,
claro, de ser uma verdadeira omissão de socorro!
Enfim, solicito ao
ministério público providências para coibir tal coação que sofri e que tudo que
relatei foi dito na presença de 8 testemunhas”.
Na carta denuncia enviada
pelo médico ao MP, ele cita os nomes e os telefones das testemunhas, que essas
pessoas sejam ouvidas e confirmem a versão do profissional de saúde.
O número do procedimento da
denúncia no MP é: 028.2020.000140.
Informações Heleno Lima
Informações Heleno Lima
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